quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Ônibus 455

O trajeto era Copacabana - UERJ, cerca de 16h.

O ônibus era 455, que faz este trajeto em cerca de 40 / 60 minutos. 

O motorista era homem; a cobradora, mulher. Iam conversando, animadamente. Eis que entra, no ônibus, pela porta traseira (após o motorista permitir) um destes vendedores de balas e etc.

O rapaz vendia Mento's (aquela caixinha) por R$ 1. Entregava um pequeno papel com a caixa para cada um dos passageiros murmurando algo como "Com licença, boa tarde, Mento's, um real" e, após entregar a todos os passageiros (não contei...) ele ia, para a frente do ônibus, e repetia aquilo que disse individualmente, em voz mais alta, para todos ouvirem (de novo).

Descobri, meio sem querer, que o rapaz vendeu "bem". Não saberia quantificar o "vender bem", pois não sabia quantos passageiros tinham no coletivo, nem quantos compraram a mercadoria do vendedor.

O mais inusitado (como se propõe este blog) vem à seguir:

- Deixa uma bala aí com a gente, rapá?

- Oi?

- Tu vendeu bem a beça. Deixa uma bala de cortesia aí pro motorista e pra cobradora, pra mim, né?

- Mas...

- Mas o que, caralho? Tu vendeu bem pra cacete aí, vendeu tua mercadoria, entrou de graça aqui no busão, motorista e cobradora foro legal com você, e agora tu vai saltar aqui do busão sem dar um agrado? Tem que dar um agrado, caralho. Tá pensando?

O vendedor, que, certamente, sentiu-se acuado, perguntou:

- De qual sabor tu quer?

- Tem de que?

- Maçã verde, extra-forte e sortidos.

- Sortidos. É esse que a gente quer. Dois, né? Um pra mim e um pro motorista...

- Mas aí.

- Eu quero não! Só pra tu, cobradora! Pega só o teu e deixa o cara vender, cara...

- Só sortidos pra mim, então...

O vendedor entregou a mercadoria a ela e saltou do ônibus. Eu, que não comprei a Mento's, continuei no ônibus, observando a cobradora e o constrangimento dos passageiros e, também, do motorista.

Ela continuou:

- Os caras pensam que a gente é trouxa, cara [pro motorista]! Entra no ônibus, vende a mercadoria dele, vende bem a beça, tu viu? [Silêncio] E aí não vai dar um agrado? Pô, tu foi gentil. Nós, né? Abrimo pra ele, entrou de graça. E aí ele não vai ser gentil com nós? Vai sim. Tem que ser, né? Tem vendedor desse que nem precisa pedir. Que, antes de vender, já dá uma bala para a gente, um qualquer-treco-que-ele-venda, né? Mas esse aí, tu viu? Ia saltar do ônibus, depois de vender para cacete, e não ia dar nada pra gente? Assim não dá. Da próxima, não deixo que ele entre não. Se o cara não vende nada, aí tudo bem, ele dá a gentileza se quiser. Mas, pô, o cara vendeu. Tem que dar uma gentileza, né? Porque é isso: gentileza é gentileza. E eu gosto mesmo é disso, de pedir a gentileza. Porque, se a gente não força o cara, ele não faz a gentileza...

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