sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Hotel Magnus

Era a nossa primeira vez no Hotel Magnus, na Tijuca.

Chegamos cerca de 4h15 da manhã. O período iria até 12h. 

Às 11h55 ligamos solicitando mais uma hora adicional. A telefonista nos informou não ser possível esta modalidade. Deveríamos pagar o período e solicitar mais um período de 3h. 

Assim foi feito. O garçom veio, recebeu o valor referente ao período de até 12h, e ficaríamos até 15h, portanto, devendo pagar, às 15h, este segundo período.

Às 13h10 o telefone tocou e, imediatamente, a campainha. Quando atendemos o telefone, já não havia ninguém na linha, e a campainha continuava a tocar, com insistência. Não abrimos a porta e começamos a ligar, novamente, para a telefonista, para entender a insistência.

"Seu período já acabou faz tempo, senhora". Tivemos que informar - novamente - que o nosso (segundo) período ia até 15h, e que, segundo ela, "talvez o garçom tivesse se confundido". A campainha parou de tocar e não houve qualquer pedido de desculpas.

Às 15h, veio a nossa conta, pagamos, e saímos do quarto. Ao chegar na recepção, para poder ir embora do Hotel, a porta (que dá acesso à rua), estava fechada.

Questionados se não poderíamos sair, a recepcionista informa que "é padrão do hotel fazer vistoria no quarto antes de liberar os clientes".

Ótimo. Nós - os clientes - que já tínhamos sido importunados inadvertidamente, deveríamos aguardar EM PÉ, na recepção do Hotel, para que o funcionário fizesse a vistoria no nosso quarto, para ver se não estávamos levando nada. 

Cerca de cinco minutos após, o telefone da recepção tocou e fomos, enfim, liberados.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Orcozol

A Orcozol é a empresa de cobrança do grupo CETELEM (Casa Show).

Recebi um boleto para quitação da dívida, com vencimento para 20/12/2013. O valor da dívida era de R$ 2.889,25. Com desconto para pagamento à vista: R$ 1.449,62.

Foi pago - na boca do caixa, em dinheiro - o valor à vista. Não informei à Orcozol, nem à CETELEM, pois acredito (acredito?) na tecnologia e na comunicação entre banco - cliente - empresa de cobrança. 

Início de Fevereiro recebo uma nova cobrança, também da Orcozol, cobrando a dívida da CETELEM. Agora, o valor para pagamento seria R$ 1.565,63, até o dia 28/02/2014.

Liguei para a Orcozol (número 4003-7477), no dia 17 de fevereiro, e falei com uma atendente, que ao ter seu nome perguntado, respondeu de forma mal-humorada e baixa (de forma que eu não pudesse entender). Expliquei minha situação / reclamação. Pediu meu CPF, e, eu forneci, prontamente. A ligação estranhamente caiu.

Liguei novamente e Rafael me atendeu. Outro tipo de atendente, que nem precisei perguntar seu nome. Muito solícito e simpático. Expliquei minha situação, sobre o boleto pago em Dezembro, e ele não conseguia visualizar em seu sistema! Me forneceu um e-mail (apoiocetelem@orcozol.com.br), solicitando que fosse enviado a foto do boleto pago, para ele CONVERSAR com a supervisora dele.

As fotos (abaixo) foram enviadas, com exatamente este texto, que consta aqui. Vamos aguardar...

Esperamos que o problema seja resolvido, em até 48h.






sábado, 15 de fevereiro de 2014

Artigo 282


Quem tem filho pequeno sabe que uma mísera tomada pode virar uma ameaça tão letal quanto um tiroteio.
O chão ensaboado é o vilão da vez. Um arroubo de preciosismo com a limpeza e lá está a criança caída no chão da cozinha. Detalhe: com 40% de dois dentes da frente quebrados. Choro, sangue, lágrimas, danação eterna e construção de um inferno infantil onde um adulto menos hábil não consegue adentrar.
17h 30min de uma quarta-feira: o dentista que costuma acompanhar a criança já está em um happy hour ou no caminho de casa. O que fazer?
A primeira ideia que surge é de contatar um consultório odontológico 24 horas.
- Boa noite. Vocês atendem crianças? 
-Pode trazer a criança, senhor. Atendemos sim.
- Ok.
E por conta da apreensão de um pai no limite de sua preocupação, o táxi e seu motorista teriam que se transmutar em um avião. Coitado. Transformou seu carro no melhor caça que pôde. E voou.
Chegamos ao consultório e descobrimos que só as recepcionistas estavam contidas no esquema de 24 horas que o letreiro informava. Não havia dentistas por lá. Só havia boa vontade. 
-Senhor, eu vou tentar dar um jeito para a sua menina. 
(E tome mais choros da criança com a impossibilidade de ter seu problema sanado)
- Dra. Patricia? Oi, tudo bem? Estou aqui com uma menininha de 8 anos. Ela quebrou os dois dentes da frente. O quê? A senhora não atende crianças? Hã? É só protesista, não se sente à vontade para avaliar a situação? Ok, obrigado. 
(E tome mais rasgados choros infantis. A essa altura, pensava que minha filha chorava por conta da incompetência alheia)
Desolada, a recepcionista desligou o telefone. De repente, teve uma luz. Seu rosto se iluminou com tal potência que já podíamos ver os dentes de minha filha restaurados.
-Conheço uma amiga de uma amiga da amiga da  Dra.Tânia Mara. Ela costuma atender emergências.
Isso não podia dar muito certo. Murchei igual a uma balão quando ela concluiu a sentença. Só que não havia mais fuga. Era pegar ou largar.
-Sim. Dra.Tânia? Aquela sua amiga ainda atende emergência? Atende? Oba. A sra. me passa o telefone dela? (Recita o telefone) Huuum, Dra.Petra. Muito obrigada. Boa noite.
A recepcionista pega o telefone e faz uma nova investida. 
- Dra.Petra? Estou com uma criança de 8 anos aqui. Ela quebrou os dentes da frente. A senhora pode dar uma olhada nela ainda hoje? Não? A senhora só pode passar um remedinho para aliviar a dor? Se o pai e a criança podem esperar? Pode ser que coloque no encaixe da tarde amanhã?  A senhora liga em uns dez minutos? Ok.
Ela se vira para mim e abre os braços, impaciente com o entrevero.
-Se o senhor aguardar mais dez minutos, eu posso tentar uma solução.
Ao fim do vigésimo minuto, o telefone toca novamente. Quase corremos os três para atender a chamada. 
(Mais conversa entre a extenuada recepcionista e a hipotética dentista)
-Sr., ela passou o número de uma outra dentista. Falou com essa colega e ela disse que ela atende casos emergenciais. Só que o sr. e sua filha terão que deslocar uns 5 km. É só o sr. ligar para confirmar o horário das 20h.
Olhei para o relógio. Ele marcava 19h15min. Eu tinha a intuição de que isso custaria muito mais que qualquer dinheiro.
Como estava previamente acordado, liguei e a dentista me pediu para ir a um local informado. Ela ainda estava em casa. Disse que encontraria conosco no horário combinado.
Conseguimos chegar no horário. A dentista ainda não havia chegado. Ela só chegaria uns cinco minutos mais tarde.
Chegou. Falou da neta, do filho, do cachorro de raça e, por fim, do marido. Dissertou sobre o calor intenso no país, a queda do dólar, o mosaico feito pela torcida do Botafogo, a falta de perspectiva de chuva. Nada sobre nenhum dos 32 dentes contidos em uma arcada dentária humana. Nenhum canino ou molar mereceu uma menção honrosa naquela introdução ao seu serviço. 
-O que os traz aqui hoje?
Quase respondi que meu objetivo era fazer hora, passar o tempo. Minha presença ali se dava apenas para ouvir o que ela tinha a dizer.
-Ela caiu e quebrou os dois dentes da frente. - disse de forma objetiva, seco.
-Vamos deitar na cadeirinha, baixinha bonitinha?
Esperando por algo que a fizesse se sentir melhor, minha filha deitou-se docilmente no espaço oferecido. 
-Huuum. Achava que conseguiria reparar pelo menos um dos dentes hoje. Não vai dar para fazer nada definitivo agora.
- Não dará nem para fazer um paliativo? 
- Ah, sim. Posso colocar uma placa para buscar restaurar a firmeza dos dentes.
Ela ajuntou uma maçaroca e arremessou na boca da criança. Ao fim da operação, minha filha parecia um desses boxeurs veteranos com equipamento bucal inadequado. 
-Ei, mocinha, não pode cuspir aí. Desculpe. Não temos água.
-Ela pode cuspir no banheiro?
-Se nós tivéssemos um banheiro, ela poderia. Usamos o banheiro da portaria do prédio. 
-A senhora teria um papel, um guardanapo?
-Perdão. Usei o último guardanapo para anotar o orçamento para um cliente. 
Atônito, não tive coragem de falar mais nada. Tinha medo do que ainda poderia vir.
- Dra., quanto custará o trabalho de hoje?
-Fiz esse procedimento nos dentes e pretendo retomar no sábado. Sendo assim, o serviço desses dois próximos dias fica por R$ 300,00. Só de um dente, ok? O outro vai receber um clareamento, uma reconstituição quase total e um canal. Vai custar bem mais. Todo o serviço fica por R$ 1000,00. E olhe que estou sendo bem barateira. O senhor gastaria bem mais no primeiro lugar onde foi.
Ainda petrificado pelo olhar de Medusa, saquei trezentos reais e os entreguei, sem pena ou remorso, nas garras da profissional. A mão tremia quando agarrou as notas. Avaliei que se eu não estivesse presente ela iria cheirar as notas e esfregar nervosamente no rosto. Parecia em abstinência de moeda corrente. 
Ela deu o valor final sem tirar nenhuma radiografia do local afetado. Nada. Ainda esperei a voz de Sergio Mallandro ou de um Luciano Huck interromper aquela pegadinha dolorosa. Procurei as câmeras escondidas. Nada. Já com a mão na maçaneta, ela permanecia sorrindo de forma congelada. 
-Combinados para sábado? 10h?
-A senhora pode me dar uma nota fiscal?
-Ah, meu filho! Não trouxe talão. Posso dar essa nota depois?
-Ok. 
Aquele tratamento não podia ser sério. Decidi manter a encenação até que conseguisse falar com Dr.Raphael, o nosso dentista original.
No dia seguinte, pela manhã, o nosso dentista estava à disposição. Tirou a radiografia, constatou que não havia nenhuma necessidade de canal e removeu o esdrúxulo curativo. Não sem antes colher informações sobre a autora de obra tão grosseira. Riu bastante com o ocorrido e lamentou minha inocência. Cobrou R$ 200,00 pelo que nossa Fernanda Montenegro capitalista havia avaliado em R$ 1000,00. Reconstituiu os dentes no espaço de uma hora.
Só restava recuperar o dinheiro pelo trabalho não executado de nossa dublê de profissional. 
Liguei para o consultório. Ela mesma atendeu. Sim, ela também era a recepcionista do local. Expliquei que minha filha não havia se sentido à vontade com o recurso que ela havia usado e fui obrigado a procurar outro profissional. Queria o adiantamento de volta.
-Meu filho, não posso devolver o que já contabilizei! - disse aos berros. 
-E como pode contabilizar um trabalho que não realizou? 
-É falta de ética. Vocês deveriam ter esperado até o dia da minha consulta.  Eu iria cumprir a minha parte. Não posso devolver. 
-Falta de ética não é cobrar pelo que não se faz?
-Se quisessem o dinheiro, deveriam ter me advertido com 72 horas de antecedência. 
-Minha senhora, nosso contato foi ontem.
-Está vendo? Até o tempo está contra você. Não se debata. Apenas aceite. Não vou devolver.
-A senhora pode me dar a nota fiscal que ficou devendo?
-Eu dei a nota para o senhor ontem. 
-Claro que não. A senhora prometeu no próximo atendimento. 
-Está duvidando de minha palavra? Sou uma idosa. Tenho mais de quarenta anos na área. O senhor é um canalha por duvidar de minha honradez. Um canalha, entendeu?
Ela bateu o telefone. Eu fiquei me achando o mais ingênuo dos exemplares humanos. 
Cinco semanas depois, na hora do almoço,  enquanto estava no escritório, a tv ligada mostrava a imagem de uma mulher algemada. Tentava cobrir a cabeça ao se colocar diante das câmeras. A foto do telejornal, exibida no canto superior direito do televisor, mostrava a cara de nossa experiente dentista. A expressão "exercício ilegal da profissão" preenchia a parte mais baixa da tela. Tinha quarenta anos de experiência no artigo 282.

(André Lima)

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Málaga Hotel

Eu e André costumamos dormir no Málaga Hotel, na Tijuca / Praça da Bandeira.

Chegamos na madrugada do dia 08 para o dia 09 de fevereiro, cerca de 4h da manhã. 

A porta de entrada para pedestres é ao lado da porta da garagem, e bastante distante da recepção. Existe uma campainha para tocar, e eles abrirem, de lá, o portão.

Tocamos a campainha exatas seis vezes. Batemos no portão (de ferro), pois pensamos que a campainha pudesse estar "com defeito".

Depois da oitava tentativa, abriram o portão para a gente. Fomos caminhando até a recepção.

- Oi, boa noite, queremos um pernoite, por favor.
- Não tem mais vaga.
- Nem apartamento, nem suíte?
- Nada. Tudo lotado.
- Obrigada. Foi por isso que a senhora não abriu o portão, apesar de tocarmos a campainha sete vezes?

Silêncio.

Belmonte Copacabana

Eu queria escolher um lugar para fazer meu aniversário, que fosse bar, e que coubessem entre 20 e 30 pessoas. O dia seria 08 de fevereiro, um sábado.

Escolhi junto com André, o meu namorado, o Belmonte de Copacabana, lugar que já havíamos frequentado, e que caberiam até trinta pessoas. 

Busquei o telefone na internet e liguei na sexta-feira, dia 31 de janeiro (mais de uma semana de antecedência) e ouvi que não faziam reservas no referido bar.

- É só chegar - disse a moça.
- E se eu chegar com cerca de 20 a 30 pessoas, tudo bem?
- Tudo bem.
- Ótimo, obrigada.

Feito isso, não me preocupei de ir pessoalmente e reservar o espaço. 

No dia 08 de fevereiro, o evento estava marcado a partir de 20h. Chegamos - eu e André - às 19h45min. 

E aí vieram os seguintes diálogos surreais:

- Oi, boa noite. Eu vou fazer aniversário hoje aqui e devem vir de vinte a trinta pessoas.
- A senhora reservou?
- Não, eu liguei há mais de uma semana e avisaram que a reserva não era possível na casa.

O gerente foi chamado. 

- Oi, boa noite. Eu vou fazer aniversário hoje aqui, e eu liguei antes - há uma semana atrás - e me informaram que não faziam reserva e disseram que eu podia vir direto.
- Quantos convidados são?
- De vinte a trinta.
- Vinte ou trinta?
- De vinte a trinta.
- E a senhora não fez reserva?
- Vocês informaram que não faziam reserva.

O gerente - Sr. Cândido - me encaminhou para dentro do bar. Fui alojada em uma mesa com capacidade para dez pessoas. Ele, claramente, não conseguia resolver o meu problema e me atendia e, em seguida, resmungava coisas "sem sentido" para as suas funcionárias, e olhando para mim (e meus convidados) com desdém.

Duas recepcionistas (uma delas chamada Tamires) permaneciam na entrada do bar, recebendo os visitantes. 
 Além de mim e do meu namorado, chegaram mais cinco convidados meus. Portanto,  às 20h15min, restavam três lugares disponíveis.

Fui conversar com as recepcionistas e me dirigi especialmente à Tamires, falei sobre a minha situação: "o que fazer se superlotar? Se chegarem mais convidados além da capacidade da mesa?"

Ouvi coisas - da Tamires - como:
- E aí eles ficam em pé!
- Tinha que ter marcado o aniversário mais cedo, ou em outro local, pois hoje é sábado à noite, e tem jogo.
E, a pérola foi:
- Se faltar lugar para os seus convidados... AÍ FODEU.

Após dizer isso, Tamires deu as costas e me deixou falando, literalmente, sozinha.

Pedi para chamar o sr. Cândido que, visivelmente, não sabia resolver o meu problema. 

A outra recepcionista, nos próximos trinta minutos, conseguiu outra mesa para mim, com capacidade para 22 lugares, e mudamos para esta, portanto. 

Ao final da noite, Tamires soltou mais uma pérola.

Com (quase) todos os convidados já tendo ido embora, sobraram eu, André (o namorado) e mais quatro pessoas. Pedimos a conta, que veio no valor de cerca de R$ 1.100. 

Alguns convidados já tinham pago em dinheiro e em cartão (estávamos com o comprovante de pagamento). Solicitamos que verificassem o restante a ser pago. Tamires foi a responsável por levar as notas (e dinheiro) para o caixa  e devolver-nos com o valor restante a ser pago. 

No seu retorno, veio uma nota fiscal (sem discriminação do consumo), com determinados itens em vermelho. Fiquei na dúvida sobre o valor a ser pago e perguntei a Tamires que disse:

- Não sei não, só trouxe isso aí!

E jogou em cima da mesa o "envelope" onde fica guardada a nota (e as notas já pagas) para ser paga. E, obviamente, saiu de perto, resmungando e falando mal de mim.

Lembrando que, em nenhum momento, distratei a referida funcionária (nem qualquer outra), nem subi o tom de voz (como ela). Apenas não admito ser mal tratada. Apenas não admito consumir R$ 1.100 (mesmo que eu tivesse consumido R$ 10) em um bar e ter um tratamento desrespeitoso como o dessa funcionária.


Tanto é prova da minha educação e respeito que o garçom pediu um pedaço da nossa torta para uma funcionária grávida (a outra recepcionista), e foi cedido. E, o pedaço da torta que sobrou, eu dei para o garçom dividir com seus funcionários na cozinha, ao final da noite de trabalho. Inclusive para a Tamires. 

Jornaleiro

[Eu e André, na Rua Marquês de Abrantes, um sábado, próximo de 20h]

Íamos encontrar um amigo, no Armazém do Chope e, antes, passamos na Sorveteria Itália. E, entre o sorvete e o chope, avistamos um jornaleiro.

[O homem-da-relação não pode ver um jornaleiro que entra pra ver a revista do Batman; gibis para a pequena; coisas diversas para a pequena; coisas diversas para ele mesmo; e "quer alguma coisa, amor?"].

O jornaleiro era daquele estilo pouco maior, iluminado, grande.

André entrou no jornaleiro e ficou de pé, olhando as prateleiras, de longe.

Eu contei: quatro segundos.

- O senhor me dá licença? Estou varrendo.

E não era só "varrendo"; era "varrendo-o-André-dali".

André, em silêncio, deu licença e foi então, tomar o seu chope. O "coisas diversas para ele, para a pequena, para o amor" ficaria para outro jornaleiro, que gostasse mais de (dinheiro) atender bem os seus clientes.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Studio D'Beleza

Eu sempre faço unha no mesmo salão (Ale Coiffeur, em Copacabana). 

Precisei fazer unha - às pressas. Passei no referido salão, e a minha manicure habitual ainda não havia chegado. Liguei no celular dela duas vezes, e não atendeu.

"Tento um salão pelo Centro", para onde estava indo, para uma reunião.

Andando na Uruguaiana, recebi um daqueles papeizinhos (que são dados por uma pessoa que sequer olha para você). O papelzinho era do Studio D'Beleza. "Opa, tive sorte! Obrigada".

Não tive resposta. 

O Studio (salão?) ficava logo ali, na Rua Buenos Aires, numa sobreloja, bem próximo à Uruguaiana. Subi.

Encontrei uma recepção enorme, com três grandes pufes no centro, e os locais para os cabeleireiros em volta (com as cadeiras vazias, e balcões idem). No balcão da recepção, uma moça mexia no seu tablet, com os pés (sem chinelo) para cima. Durante o nosso diálogo, ela permaneceu com o olho no tablet, e os pés (sem chinelo) para cima.

Eram 10h de terça-feira.

- Bom dia, você tem manicure?
- Tem.
- Quanto é?
- Fulaaaaaaaaaaaana? Quanto é a unhaaaaa? Treze ou quinze?
[Não lembro o nome da Fulana, e irei chamá-la de Adelaide].
- Catooooorze!
- Catorze.

Tirei R$ 50 e entreguei a ela.

- Não. Entrega a ela. 
- Onde eu vou?
- Aguarda aí. Ela tá limpando.
- Aguardo aonde?
- Aonde você quiser.

"Naquele puffe imundo?", pensei. 

Cerca de cinco minutos depois, a Adelaide(*) veio me receber.

- Quem é?
- Pra unha?
- É você?
- Sou.
- Pódevi.

Acompanhei a moça. Me parece que ela estava trabalhando, apesar de usar um short curto, uma blusa (um pouco) rasgada e chinelo havaiana. E sim, era ela (a manicure) que estava faxinando o seu local de trabalho, antes de me atender.

Ainda bem, eu havia levado meu alicate. 

O local de trabalho dela era uma sala dentro do salão, onde outras manicures trabalhariam, mas ainda não haviam chegado. 

Uma cadeira para mim. Uma cadeira para ela. Uma mesinha (alta) entre a gente. E ela trabalhando sem, sequer, olhar para mim, ou trocar meia palavra. 

Um determinado momento, chegou outra manicure. Ambas ficaram conversando, e, por vezes, Adelaide(*) fazia a minha unha SEM OLHAR PARA A MINHA UNHA, já que estava conversando (e olhando) para a colega. Habilidosa a moça: não tirou um bife. Mas as cutículas, também não foram tiradas. 

Como a conversa girava em torno de celulares, Adelaide(*) ligou para o filho (que também não me lembro o nome, e irei chamá-lo de Alfredo(*)).

- Alfredo(*)? Oi. Já comeu? Um Todynho só. É. É só um. E não bate na tua irmã, está ouvindo? É, não bate! Se eu saber que você bateu na tua irmã, eu vou chegar em casa e te enfiar a porrada, tá ouvindo? É. E não fala muito no celular não que a gente tá sem o carregador. É, deixa ligado. É. Mas não usa. E a tua irmã? Já deu o Tody dela? É só um pra ela também, tá ouvindo? É, Alfredo(*). E sem bater. Ela é pequena. Se tu bater nela, tu vai ver quando eu chegar em casa. Tchau. [Desliga o celular]. Garoto insuportável... [murmurando].

Adelaide(*) guarda o celular e continua fazendo a minha unha (ah, sim, estava fazendo, enquanto falava no celular), sem olhar para mim. 

Acabou de cutilar e veio a pergunta:

- Cualcô?
- Oi?
- Cualcô!!!???
- Não entendi.
- Cualcô tu vai pintá as unha?
- Ah, perfeito. Um clarinho, branquinho.
- Essaquitábó?
- Ta ótimo.

Adelaide(*) pintou as unhas. Limpou as beiradas do canto. 

- Quanto é?
- Quinze.
Tirei os R$ 50 da mochila e entreguei a ela, com cuidado, pra não borrar a unha.
Adelaide(*) olhou para mim. Para os R$ 50. Para mim de novo.
- Colega! [Para a outra manicure] Tu tem R$ 20 aí pra emprestá? Porque as cliente vem aqui às 9h da manhã e traz dinheiro inteiro, e ainda quer que a gente tenha trôco.
- Não, Adelaide(*), não quero que você tenha troco. Quero que o estabelecimento que você trabalhe tenha troco. 
[Silêncio]
- Aqui, seu trôco, moça. 
- Obrigada.

E eu saí dali, tendo a certeza absoluta de nunca mais voltar.
Ainda ouvi, após sair:

- Cliente abusada, tu viu, menina? Respondona... "Estabelecimento"... Falando difícil... Affff.... 

Tive vontade, também, de poder dar mais um Toddy pro Alfredo(*) e educá-lo e ouvi-lo com abraços.