sábado, 1 de fevereiro de 2014

Studio D'Beleza

Eu sempre faço unha no mesmo salão (Ale Coiffeur, em Copacabana). 

Precisei fazer unha - às pressas. Passei no referido salão, e a minha manicure habitual ainda não havia chegado. Liguei no celular dela duas vezes, e não atendeu.

"Tento um salão pelo Centro", para onde estava indo, para uma reunião.

Andando na Uruguaiana, recebi um daqueles papeizinhos (que são dados por uma pessoa que sequer olha para você). O papelzinho era do Studio D'Beleza. "Opa, tive sorte! Obrigada".

Não tive resposta. 

O Studio (salão?) ficava logo ali, na Rua Buenos Aires, numa sobreloja, bem próximo à Uruguaiana. Subi.

Encontrei uma recepção enorme, com três grandes pufes no centro, e os locais para os cabeleireiros em volta (com as cadeiras vazias, e balcões idem). No balcão da recepção, uma moça mexia no seu tablet, com os pés (sem chinelo) para cima. Durante o nosso diálogo, ela permaneceu com o olho no tablet, e os pés (sem chinelo) para cima.

Eram 10h de terça-feira.

- Bom dia, você tem manicure?
- Tem.
- Quanto é?
- Fulaaaaaaaaaaaana? Quanto é a unhaaaaa? Treze ou quinze?
[Não lembro o nome da Fulana, e irei chamá-la de Adelaide].
- Catooooorze!
- Catorze.

Tirei R$ 50 e entreguei a ela.

- Não. Entrega a ela. 
- Onde eu vou?
- Aguarda aí. Ela tá limpando.
- Aguardo aonde?
- Aonde você quiser.

"Naquele puffe imundo?", pensei. 

Cerca de cinco minutos depois, a Adelaide(*) veio me receber.

- Quem é?
- Pra unha?
- É você?
- Sou.
- Pódevi.

Acompanhei a moça. Me parece que ela estava trabalhando, apesar de usar um short curto, uma blusa (um pouco) rasgada e chinelo havaiana. E sim, era ela (a manicure) que estava faxinando o seu local de trabalho, antes de me atender.

Ainda bem, eu havia levado meu alicate. 

O local de trabalho dela era uma sala dentro do salão, onde outras manicures trabalhariam, mas ainda não haviam chegado. 

Uma cadeira para mim. Uma cadeira para ela. Uma mesinha (alta) entre a gente. E ela trabalhando sem, sequer, olhar para mim, ou trocar meia palavra. 

Um determinado momento, chegou outra manicure. Ambas ficaram conversando, e, por vezes, Adelaide(*) fazia a minha unha SEM OLHAR PARA A MINHA UNHA, já que estava conversando (e olhando) para a colega. Habilidosa a moça: não tirou um bife. Mas as cutículas, também não foram tiradas. 

Como a conversa girava em torno de celulares, Adelaide(*) ligou para o filho (que também não me lembro o nome, e irei chamá-lo de Alfredo(*)).

- Alfredo(*)? Oi. Já comeu? Um Todynho só. É. É só um. E não bate na tua irmã, está ouvindo? É, não bate! Se eu saber que você bateu na tua irmã, eu vou chegar em casa e te enfiar a porrada, tá ouvindo? É. E não fala muito no celular não que a gente tá sem o carregador. É, deixa ligado. É. Mas não usa. E a tua irmã? Já deu o Tody dela? É só um pra ela também, tá ouvindo? É, Alfredo(*). E sem bater. Ela é pequena. Se tu bater nela, tu vai ver quando eu chegar em casa. Tchau. [Desliga o celular]. Garoto insuportável... [murmurando].

Adelaide(*) guarda o celular e continua fazendo a minha unha (ah, sim, estava fazendo, enquanto falava no celular), sem olhar para mim. 

Acabou de cutilar e veio a pergunta:

- Cualcô?
- Oi?
- Cualcô!!!???
- Não entendi.
- Cualcô tu vai pintá as unha?
- Ah, perfeito. Um clarinho, branquinho.
- Essaquitábó?
- Ta ótimo.

Adelaide(*) pintou as unhas. Limpou as beiradas do canto. 

- Quanto é?
- Quinze.
Tirei os R$ 50 da mochila e entreguei a ela, com cuidado, pra não borrar a unha.
Adelaide(*) olhou para mim. Para os R$ 50. Para mim de novo.
- Colega! [Para a outra manicure] Tu tem R$ 20 aí pra emprestá? Porque as cliente vem aqui às 9h da manhã e traz dinheiro inteiro, e ainda quer que a gente tenha trôco.
- Não, Adelaide(*), não quero que você tenha troco. Quero que o estabelecimento que você trabalhe tenha troco. 
[Silêncio]
- Aqui, seu trôco, moça. 
- Obrigada.

E eu saí dali, tendo a certeza absoluta de nunca mais voltar.
Ainda ouvi, após sair:

- Cliente abusada, tu viu, menina? Respondona... "Estabelecimento"... Falando difícil... Affff.... 

Tive vontade, também, de poder dar mais um Toddy pro Alfredo(*) e educá-lo e ouvi-lo com abraços.

Um comentário:

  1. Bem, nos primeiros dias que cheguei aqui houve uma trocadora de ónibus que apontou o dedo no meu nariz porque eu não lhe tinha dirigido um "bom dia" particularmente à ela. Tenho o costume de entrar nos lugares onde não conheço as pessoas e dar a saudação de forma geral, ou seja, a todos. Fui pedir uma informação e recebi um dedo no nariz. Eu simplesmente perguntei a ilustre senhora se eu era filha dela e que se assim o fosse e se no caso tivesse sido mal criada ela poderia fazer isso. Como nenhuma das situações procedia, ela ficou olhando para mim. Realmente a falta de respeito é um problema muito sério.

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